Amei essa entrevista com ela... E apesar de não ser tão recente (vamos combinar que ela não dá tanta entrevistas), é bem interessante!
Fala sobre jornalismo, moda, estilo... Vale a pena ler.
Ao vermos
jornalistas e apresentadoras bem vestidas na TV, não imaginamos que o estilo é
desenvolvido especialmente por profissionais de moda trabalhando por trás das
câmeras. É o caso de Regina Martelli, produtora de figurino da equipe de
telejornalismo da TV Globo.
Por
Vanessa Endringer
Ela é uma
das mais tradicionais jornalistas de moda do país. São 38 anos trabalhando no
segmento, carreira que começou por acaso, quando, ainda na faculdade de
jornalismo, precisou trabalhar para ganhar dinheiro. Acabou se apaixonando pelo
tema e há 20 anos é a consultora de moda dos jornalistas da Rede Globo de
Televisão. Na entrevista a seguir, ela fala da carreira, da evolução da moda
desde que começou a atuar e dá dicas preciosas de peças que são atemporais.
Você é
jornalista. Como entrou no segmento da moda?
Eu sou
jornalista, me formei em jornalismo. Naquela época, na metade do século
passado, não tinha nenhum curso de moda, especialmente aqui no Brasil. A moda
era muito mais intuitiva e eu sempre fui uma pessoa que me interessei pelo
assunto, me vestia, me maquiava, desde garotinha gostava de misturar minhas
roupas numa época em que garotinha se vestia feito, enfim, bonequinha.
Mas entrei realmente na moda na faculdade, porque precisei trabalhar e ganhar
dinheiro. Foi quando resolvi trabalhar numa loja, numa época em que estava
começando o pret-à-porter, começando aquelas lojas tipo boutique, inspiradas em
Londres, nos Beatles. E lá eu descobri que este era o meu universo. Mas isso no
comércio. Depois tive uma confecção, deu certo mas eu não me realizei. Até
que recebi um convite para ir trabalhar no Globo, fazendo produção de
moda no jornal O Globo do Rio de Janeiro e escrevendo sobre o que eu
fotografava. Passei por todos os veículos até parar na televisão.
Como é
hoje o seu trabalho na Rede Globo?
Basicamente
eu cuido do visual dos jornalistas, dando uma assessoria, uma consultoria,
cuidando das compras de roupas, das escolhas das roupas e é um trabalho que eu
faço com uma equipe, tem três produtoras junto comigo, e também com a pessoa
que escolhe, que prova, veste, e isso tudo é um trabalho em conjunto. Aliás,
televisão é um trabalho que se faz em equipe. E eu continuo jornalista de moda,
faço umas matérias, mas não é nada com muita regularidade, até porque TV aberta
e moda é sempre complicado (risos). Os programas de moda se transportaram muito
para a TV a cabo. Então, na Globo News, eu faço algumas matérias.
Qual é a
principal diferença da roupa que a gente vê na vitrine, por exemplo, da roupa
que você escolhe para os jornalistas?
Praticamente
nenhuma, porque o ideal é que o jornalista e o apresentador usem exatamente a
roupa que está na vitrine, para que o telespectador tenha uma identificação ao
assistir, não estranhe ao olhar. Uma roupa que acabou de sair da SPFW, por
exemplo, não serve, porque é uma roupa muito moderna, que as pessoas vão
estranhar. Agora, certos detalhes não podem. A roupa não pode chamar muita
atenção. Tem que ser uma peça que o imaginário das pessoas conceba como uma
roupa para o jornalista usar. Então, por exemplo: uma roupa toda transparente e
cheio de babadinho não é o que as pessoas imaginam que um jornalista use.
Basicamente é isso. É como se fosse um figurino para uma novela, a diferença é
que o personagem é único: o jornalista.
A
jornalista Patrícia Poeta introduziu no segmento, junto com você, o vestido,
uma peça que não é tão comum no jornalismo.
Na
verdade, o programa que ela faz é um programa especial. Não é um programa de
jornalismo exclusivamente. É uma revista de domingo, então cabe um visual mais
solto. Mas se você reparar bem não é uma roupa moderna, é uma roupa que está na
loja. Com ela eu posso brincar mais porque a Patrícia é linda, ela veste bem a
roupa, porque ela é uma pessoa que levanta a peça. Agora, isso tudo porque ela
não faz o jornalismo de bancada. Esse sim é mais preso mesmo.
O que mais
se ouve hoje em dia é que a moda está cada vez mais democrática. Você acha que
as pessoas estão sabendo usar essa democracia da moda?
A moda
está cada vez mais livre realmente e cada vez mais democrática. E como toda
liberdade, isso também pode ser algo perigoso, já que ela pode ser mal usada. E
as pessoas, bom... algumas sabem usar e outras, não. Porque aí passa a depender
muito de uma coisa complicada que é o bom senso. O que é o bom senso? É algo
meio indefinido: tem pessoas que acham que têm e não têm. Então, a escolha da
roupa é realmente pessoal e hoje em dia você usa calça justa, calça larga,
vestido comprido, vestido curto, vestido solto, vestido justo... cada um usa o
que gosta. Agora, se a pessoa está ridícula ou bizarra com aquela roupa? Bom, a
gente vê isso muito. Mas é o preço que se paga pela liberdade, não é?
Você está
há 38 anos trabalhando com moda. O que você viu de evolução no segmento desde
quando você começou até hoje?
Penso
que está muito mais organizado, muito mais eficiente. Antigamente não existia
escola de moda e não havia profissionalismo. Eram pessoas que tinham vocação,
que desenhavam bem, tinham um olhar diferenciado e se dedicavam, mas não era
uma coisa realmente profissional. A moda se organizou, o brasileiro está
caminhando para ter um estilo. Antigamente havia muita cópia. As pessoas
viajavam e viam a roupa na vitrine e faziam igualzinho. Agora já evoluiu,
existe um trabalho de criação, existe um conceito, um trabalho sério em torno
da moda. O que precisa ser feito é criar cada vez mais essa identidade e depois
se voltar para o mercado externo. É que a gente exporta muito pouco. É uma moda
que vive basicamente do mercado interno e isso não é bom. Ela tem que crescer,
tem que ter peso, tem que ser conhecida lá fora, enfim, tem que trazer lucro
para o país.
Quem são
os grandes nomes da moda hoje?
São
vários: Reinaldo Lourenço é um grande nome. Alexandre Herchcovitch, Glória
Coelho, Clô Orozco. Por estados, diria Luciano Canale (da Santa Ephigênia) e
Lenny Niemeyer no Rio de Janeiro, Graça Ottoni e Ronaldo Fraga em Minas Gerais,
Oscar Metsavath, em SP. Tem muitos!! Jacqueline de Biase, da Salinas. São
pessoas que fazem uma coleção bem estruturada, organizada, com uma referência e
com olhar para o negócio, para o business. Enfim, o que me vem à cabeça são
essas pessoas, mas graças à Deus hoje temos muitas outras.
Quais são
as peças coringas que toda mulher moderna tem que ter no guarda-roupa,
independente de estação?
Uma
camisa branca. É sempre chique: levanta a gola e faz um ar de princesa que vai
estar bonito. Uma calça de alfaiataria reta, nem skinny nem largona, que também
é um clássico e vai usar de três a quatro anos até a forma mudar. Um casaco,
nem totalmente aberto nem muito justo, mas é bom colocar ombreira porque está
na moda e vai continuar. Vestido. Não vou dizer vestido preto, pode ser
qualquer vestido, sendo que um pra noite e outro pro dia. Também é importante
ter uma sandália baixa e uma bota para o inverno. Para o verão, uma sandália
plataforma, meia pata.
Cite pra
mim uma pessoa hoje no Brasil que você admira pelo estilo. Que você fale assim:
“essa pessoa, quando eu a vejo, independente de ser em uma ocasião de festa ou
no dia-a-dia, normalmente está elegante, em dia com o estilo dela, independente
da moda”.
Primeiro:
eu acho que essa pessoa não existe, porque toda pessoa pra ter um estilo tem
que estar conectada com a moda ou pelo menos com tendência, se não ela vai
ficar uma pessoa com figurino de época (risos). Uma pessoa, pra ter estilo, por
mais básica e clássica que ela seja, tem que ter uma conexão com o mundo real.
Conheço várias pessoas que têm estilo, que eu gosto. O estilo é realmente uma
coisa pessoal, já a moda é para todos. Mas você pinçar dentro da moda uma coisa
sua, pessoal, é muito importante, porque você também precisa estar conectado
com o que está acontecendo, se não parece que você saiu do túnel do tempo.
Você acha
que a moda está muito elitizada ou é possível encontrar boas peças em lojas de
departamentos?
Acho que é
possível, sim, encontrar peças boas em lojas de departamentos. Agora, essas
peças serão sempre muito mais caras do que as básicas. O que eu quero dizer é
que moda pressupõe uma elitização. Só ser moda já é mais elitizado porque mesmo
que seja uma loja de departamentos, ela terá um babadinho a mais, então, ela
será mais cara do que a roupa que não tem esse babadinho, que não tem esse
compromisso com a moda. Existe a roupa simplesmente, que é uma camisa qualquer,
que é uma saia qualquer, que as pessoas podem usar perfeitamente, não tem nada
de discriminatório nisso, e existem as peças que seguem uma tendência de moda.
Então tem alguma coisa a mais que dá personalidade à essa roupa, ela será
sempre um pouco mais cara, mesmo que seja mais barata do que numa loja de
grife.
“A moda
está cada vez mais livre... E como toda liberdade, isso também pode ser algo
perigoso”
Por Vanessa Endringer
Fonte: http://www.svrevista.com.br/v2/materias.php?id=82
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